Eram por volta das 19hs desta quarta-feira (23) quando os soldados da PM André Moreira e Edson Aparecido, em patrulhamento pela região do Shopping Aricanduva, zona leste de São Paulo; receberam um comunicado do Centro de Operações da Polícia Militar (COPOM) informando que um veículo havia acabado de cair no córrego Aricanduva, em frente ao shopping de mesmo nome. Ao chegarem no local, Moreira e Aparecido ainda tentaram salvar as vítimas que, segundo relato dos soldados, estavam vivas e gritavam por socorro dentro do veículo que se encontrava com as quatro rodas para o alto e com todas as janelas fechadas. No entanto, não conseguiram salvar as duas mulheres que usavam os cintos de segurança, estavam presas a eles e morreram afogadas.
Daíza Cordeiro de Souza, de 47anos, estava fazendo aula de direção em seu próprio carro, um veículo Palio, e era orientada por uma instrutora que, até o início da madrugada, ainda não havia sido identificada pela polícia. Ela havia obtido a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) a cerca de quatro meses, mas ainda não sentia segurança ao dirigir, segundo informações de seu marido, Evandro, e da amiga Marinalva Batista dos Santos (45anos).
A instrutora foi contratada por Daíza no último domingo (20) quando fora realizada a primeira aula ao custo de R$30. Marinalva disse que a amiga expressou à ela o desejo de ser instruída dirigindo em avenidas de tráfego intenso e que gostaria de dirigir na área urbana na Rodovia Anchieta para, segundo ela, vencer o medo da direção.
Por causas ainda desconhecidas, a motorista perdeu o controle do veículo e invadiu as margens do córrego Aricanduva, onde não há guard rail, nem proteção alguma que pudesse evitar o progresso do veículo às aguas do córrego. Capotando na grama, o carro acabou afundando e, após tentativa de salvamento pelos soldados da Polícia Militar, mergulhadores do Corpo de Bombeiros foram acionados para resgatar as vítimas, já mortas, de dentro do automóvel.
Daíza era diarista, mãe de três filhas e mantinha um relacionamento estável com Evandro.
As cenas que seguiram às margens do córrego Aricanduva, na noite de ontem, eram de desolação completa. Agentes de trânsito da CET, policiais militares, bombeiros, jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas e repórteres não compreendiam tamanha violência do trânsito que havia vitimado mais duas pessoas.
Ao chegar ao local com o marido de Daíza, uma de suas filhas se desesperou e teve de ser amparada por policiais.
Aula de direção tem de ser dada por instrutor(a) credenciado(a) pelo Detran e a instrutora que dava as aulas para Daíza, segundo informações, não tinha cadastro no órgão mas trabalhou, até o ano passado, em um CFC (Centro de Formação de Condutores) quando deixou a auto escola para dar aulas particulares. No entanto, ela não possuía um carro adaptado com duplo comando de pedais para que, numa eventualidade como a que aconteceu, pudesse agir no sentido de prevenir ou evitar a tragédia. As aulas eram aplicadas com os veículos dos próprios alunos.
Aula de direção clandestina: é tudo o que a cidade de São Paulo precisava para colocar seu trânsito, definitivamente, em total descontrole.